sábado, 8 de abril de 2017

O Ceará Holandês

Desde 1632 os holandeses, que já dominavam Pernambuco, tentavam se apossar do Ceará, onde existia um pequeno contingente português na barra do rio Ceará; mas só conseguiram seu intento em 1637, no governo do Príncipe Maurício de Nassau.
Com a ajuda de Algodão, chefe dos tapuias estabelecidos em Arronches (atual Parangaba), e sob o comando de Joris Gartsman, se apoderaram do fortim, em poder dos portugueses desde o tempo de Pero Coelho, sob a denominação de Forte de Nossa Senhora do Amparo (Souza, 1885) ou Forte de São Sebastião (Studart, 1937).


Expulsos dali em 1644, os invasores holandeses voltaram ao Ceará no Governo de Schoonemborch, de sorte que em 1649 era fundado por Matias Beck o forte de nome desse governador, no local que após a capitulação do Recife, os portugueses fundaram o Forte de N. S. da Assunção.

forte de N. S. da Assunção

A expedição ancorando no Mucuripe, tentou desembarcar em dois pontos diversos da hoje praia do Meireles, e não conseguindo por causa da arrebentação, veio fazê-lo em frente à embocadura do pequeno regato designado por Marajaitiba (Pajeú).

O terreno da hoje moderna cidade estava dividido em duas lombadas, uma onde assenta agora o quartel, o Passeio Público, etc.e outra, onde ficava a Rua Formosa, desde a Travessa Municipal até a Rua das Trincheiras. 
Havia um aldeamento de índios no sitio localizado na extremidade norte da rua do Chafariz, quase na embocadura do Marajaitiba. Na planta de Mathias Beck, o riacho Jacarecanga aparece com o nome de “Tipoig”, e a barra do Ceará ou Itarema para os holandeses, apresenta do lado direito um velho fortim português denominado São Sebastião e as casas de dois indígenas.

Mapa de Mathias Beck

As edificações feitas pelos holandeses no monte Marajaik consistiam no forte de 5 pontas, cercado de parapeitos e paliçadas. No recinto do forte, construíram um armazém guarnecido com paliçadas e, junto ao portão, um alojamento para Mathias Beck. Para receberem mantimentos, que vinham por mar, procedentes de Pernambuco, os invasores fizeram um acesso que punha a fortificação em comunicação com o mar.

Do fortim descrito no mapa se projetava uma estrada para o interior em direção à Itarema (Serra da Taquara), onde os holandeses acreditavam haver minas de prata, que teriam sido exploradas, com sucesso ou não – por Martim Soares e outros portugueses.
Nessa linha encontra-se, sem designação o riacho do Tauape; mais além do ribeiro que denominavam “Pirdo-Çai”, adiante quase 2 léguas da costa, a Lagoa do Arronches, ao ocidente da qual corria o caminho, bifurcando-se nele, o que conduzia à Barra do Ceará.

trecho do Rio Ceará em 1925 (imagem: blog do Iba Mendes)

Entre a lagoa do Arronches e a de Mondubim corria um regato que não traz nome. Cerca de uma légua além de Mondubim a estrada era cortada por um pequeno regato sem identificação, e duas milhas adiante, deparava-se com o rio Itapeba, uma légua além do qual o caminho se dividia em dois ramais, um ao ocidente, conduzindo a Itarema, e outro ao oriente, conduzindo a Pirapora, no sopé da serra de “Maraguá”, conforme ali designado.

Toda esta extensão era deserta. Em meio a Serra da Taquara (Itarema) havia um quartel do comissário Hendrick Van Ham, incumbido da exploração e mineração de prata, que os mineiros diziam existir ali em duas fendas, maior e menor, já no vértice da montanha, ficando-lhe de permeio o pico, a que se dava o nome de Itarema.

Do alto da serra corria um riacho que vem designado sob o nome de Itarema Igeoab, o qual deve ser o riacho Taquara. Já os colonos das duas nações, estabelecidos precedentemente na barra do Ceará frequentavam esta região, pois nesta planta ou carta, que os holandeses chamavam da Capitania do Ceará, se veem traçados, um pouco abaixo de Taquara, dois caminhos que conduziam ao rio Ceará. Tudo quanto existia na região propriamente de Pirapora (Pirapedoba) consistia em quatro roças de milho e de mandioca pertencentes aos índios.


Extraído do livro Ceará (homens e fatos) de João Brígido