terça-feira, 8 de setembro de 2015

A Eclosão dos Partidos Políticos

Os partidos políticos do Ceará originaram-se das revoluções libertárias realizadas no Nordeste, revoluções que a muito custo conquistaram a identidade histórica e a formação do caráter político da sociedade cearense. A partir delas, a aristocracia rural se organizou em partidos políticos dirigidos pelas famílias proprietárias dos mais importantes domínios de terra da Província.

O primeiro partido político propriamente dito do Ceará, o Partido Republicano, surgiu na Revolução Pernambucana de 1817, quando, liderado pela família Alencar, ocorreu a Proclamação da República, no Crato. Posteriormente, uniu-se a esse Partido Republicano, o Partido Constitucional, no tempo em que a família Castro, do Aracati, ascendia na política da Província.

vista panorâmica do Crato (foto IBGE)

Durante o movimento da Independência do Brasil formaram-se dois partidos: o Patriota – favorável à separação do Brasil de Portugal, e o Corcunda – constituído em sua maioria por portugueses, contrários à independência do Brasil. Nesse cenário firmou-se na política da Província, a abastada família Fernandes Vieira, conhecido por Carcará, como referência a sua propriedade. 

Os Carcarás, liderados pelo futuro Visconde do Icó uniram-se aos Castro, no partido Corcunda. No tempo da República do Equador, o Partido Corcunda tornou-se Partido Imperialista e o Patriota identificou-se com o Partido Republicano. Este último foi extinto depois da execução dos seus líderes revolucionários, no município de Santa Rosa e no Campo da Pólvora, atual Praça dos Mártires em Fortaleza. 

bandeira da Revolução Pernambucana de 1817 (imagem wikipédia)

Esses movimentos  políticos foram consequentes a transformações mais amplas nas esferas econômica e social ocorridas no mundo.A Revolução Pernambucana de 1817 iniciou-se na elite de Recife com a participação de grandes proprietários rurais do Estado. O clero teve participação ativa, apregoando as ideias iluministas e liberais europeias, importadas para o Seminário de Olinda. 

José Martiniano de Alencar
Com o intuito de expandir o movimento revolucionário, o novo governo republicano enviou  emissários às diversas regiões. Para o Ceará veio o diácono do Seminário de Olinda, José Martiniano de Alencar. Na rica região do Cariri, onde sua família gozava de largo prestígio, leu na Matriz do Crato a mensagem que trouxe de Pernambuco e proclamou a nova república. Este se tornou no Ceará um movimento, quase que na totalidade, da família Alencar.

José Martiniano recebeu o apoio de sua mãe, Dona Bárbara de Alencar, de seu tio, o Capitão Leonel Pereira de Alencar, de seu padrinho, o vigário do Crato, Miguel Carlos da Silva Saldanha, de seus irmãos Tristão e Carlos e numerosa parentela. 

Casa na Villa do Crato, onde nasceu Bárbara de Alencar

A Revolução Pernambucana foi uma  das únicas revoluções antes da Independência, em que os revoltosos assumiram temporariamente o poder político. Apesar de sua existência efêmera e da derrota dos insurretos, a Revolução Pernambucana que durou 75 dias em Pernambuco e 8 dias no Ceará, teve repercussão no movimento constitucionalista de 1821, na campanha da Independência de 1822 e na Confederação do Equador, de 1824. 

A proclamação da Independência do Brasil não teve aceitação unânime na ex-colônia portuguesa, acirrando a antiga rivalidade  entre portugueses e brasileiros. Muitas províncias governadas por juntas dominadas por portugueses não aceitaram a separação do Brasil de Portugal. Nutriam a esperança de um retorno ao colonialismo, visto que D. Pedro I continuava sendo herdeiro do trono português.

Integrando o governo provisório cearense, Tristão Gonçalves e Pereira Filgueiras chefiaram a Junta Expedicionária que exigiria a rendição da Província do Maranhão, em 1823. Enquanto Tristão Gonçalves batalhava pela autonomia política brasileira, seu irmão José Martiniano de Alencar representava o Ceará na Constituinte aberta em 3 de maio de 1823, com o propósito de organizar o novo Estado Brasileiro. 

Numa atitude despótica o novo imperador dissolveu a Constituinte seis meses depois de tê-la instalado, outorgando uma Constituição – a primeira constituição brasileira imposta de cima para baixo – em 25 de março de 1824. Esta, de inspiração europeia, impedia a participação da maioria da população, diminuindo o poder político das províncias, concentrando-o nas mãos do imperador.

Deixando a Corte no Rio de Janeiro, Martiniano de Alencar passou por Recife em dezembro de 1823. Retornando ao Ceará, os irmãos Alencar encontraram um governo desmoralizado e o descontentamento dos liberais com o absolutismo imperial – grande impulsionador do novo movimento revolucionário. 

No dia 26 de agosto de 1824, Tristão Gonçalves, então presidente temporário da Província do Ceará, reuniu o Grande Conselho no Palácio Presidencial. Com a presença de representantes de todas as Câmaras do Ceará, do Clero, dos Corpos Militares e dos Colégios Eleitorais. Foi aprovada, por unanimidade, a anexação do Ceará à Confederação do Equador. 

O Ceará foi a última província a render-se. Quase só, abandonado por seus companheiros, Tristão Gonçalves foi morto, lutando contra os inimigos, no dia 31 de outubro de 1824, no município de Santa Rosa. Ao contrário da revolução Pernambucana, na qual não se derramou sangue cearense, na Confederação do Equador houve muitos sacrifícios de vidas humanas. O imperador, inflexível, não concedeu a anistia prometida pelo inglês Lord Cochrane, que comandou a repressão do movimento separatista. 

Praça dos Mártires em 1943
Instalou-se a uma Comissão Militar, popularmente denominada Tribunal do Sangue, na Casa dos Governadores, que condenou à morte os líderes da revolução. Entre os primeiros a serem sacrificados, no antigo Campo da Pólvora, em Fortaleza, encontravam-se o Padre Mororó e o coronel Pessoa Anta, familiares dos futuros senadores Pompeu e Paula Pessoa, que liderariam, logo mais, no segundo Reinado, ao lado do senador Alencar, o Partido Liberal da Província.


Extraído do livro
Ideal Clube – História de uma sociedade: memórias, documentos, evocações. De Vanius Meton Gadelha Vieira
fotos arquivo Nirez
 

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