segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A Cura pela Fé: O trabalho de Rezadeiras e Curandeiras


Dona Zilma Saturnina, rezadeira e moradora do Pirambu

Num misto de fé, prática cultural e medicina popular as rezadeiras mantêm viva a esperança de cura do corpo e da alma através da fé.  Não importa se o problema é mau-olhado, espinhela caída, briga de marido e mulher, ou quebranto: as rezadeiras, conhecem remédio e tratamento para tudo.  

Munidas de folhas e ervas medicinais, imagens de santos, rosários, oratórios e a palavra dita por intercessão de Deus e do Espírito Santo, as rezadeiras exercem seus conhecimentos.  Os gestos e rezas nunca são ensinados ou aprendidos, e sim revelados pelo divino.  

As rezadeiras tampouco cobram por seus trabalhos, e a atividade é realizada predominantemente por mulheres.  O tratamento é simples: com os ramos na mão a rezadeira faz o sinal da cruz no doente. Se a planta murchar, é sinal que as folhas capturaram o espirito maligno que martirizava o doente. 

A figura da rezadeira  se observa em todo o país, seja nas grandes cidades, seja nos municípios do interior. Estudiosos afirmam que a rezadeira de hoje  equivale às antigas feiticeiras das aldeias europeias: são pessoas que geralmente sabem utilizar as plantas medicinais da região em que vivem e combinam o uso destes medicamentos naturais com o ritual da benzedura. 

O processo de curar pela oração não é exclusividade de nenhuma religião; toda religião tem seu curador e seu método.  O curandeiro costuma acumular três habilidades: é raizeiro, pois sabe preparar  remédios com ervas medicinais e conhece sua aplicabilidade; é rezador, já que conhece orações e simpatias  para prevenir e resolver problemas físicos e espirituais  e é benzedor,  tendo em vista que exercita a cura usando símbolos de religiosidade como o sinal da cruz,  com ramos de ervas sobre o corpo do enfermo.  Conhecimentos adquiridos de pais e antepassados, transmitidos oralmente através das gerações.

Dependendo da região do país e da tradição oral de cada família, cada curador tem receitas especificas  para tipos distintos de problemas: são garrafadas, xaropes, chás e lambedores que servem para curar diversos males.

Por conta desses saberes de cunho não científicos, mas igualmente eficientes, a partir de 2004 foi instalada no Ceará uma escola para  a formação de profissionais para o Programa Saúde da Família (PSF). E ali foram feitos dois treinamentos com 250 rezadeiras --ou benzedeiras-- cadastradas no serviço de saúde, além de cerca de 60 responsáveis por terreiros de umbanda.

No treinamento elas aprendem, por exemplo, a reconhecer manchas que podem ser de hanseníase, e encaminham o paciente ao posto de saúde. São orientadas a fazer isso também quando receberem uma criança que acreditam não poder tratar.  Com a presença do SUS (Sistema Único de Saúde) em todos os municípios e com o PSF, o choque entre rezadeiras e medicina vem diminuindo.

Oração de Santo Antônio (para as mulheres que tem problemas com o marido)
Santo Antônio pequenino.
Amansador de potro brabo
Amansai o coração de (nome do marido)

(A esposa responde)

(nome do marido), debaixo do meu pé esquerdo,
Eu te arremato, seja com uma, com duas ou três,
Que eu te parto o coração
Se estiver dormindo, não dormirás,
Se estiver pensando em outra mulher, não pensarás,  
Só terás descanso quando com quem viveres falar
Conta-me o que souberes, dai-me o que tiveres,
E parai com todas as mulheres do mundo,
Pois para ti pareço uma rosa, bela e fresca.

Um dos exemplos mais bem sucedidos da união de conhecimentos científico e popular de Fortaleza,  é praticada pelo Projeto Quatro Varas, realizado há mais de 20 anos no bairro  do Pirambu, comunidade que abriga cerca de 50 mil pessoas na periferia de Fortaleza. 

farmácia popular do projeto Quatro Varas

O projeto de iniciativa do Dr.  Adalberto Barreto, psiquiatra e antropólogo, que começou a reunir pessoas para discutir seus problemas,  à sombra de um cajueiro. Hoje, sentado no mesmo local, ele festeja a concretização de um projeto que atende mensalmente 1.200 pessoas e enfrenta, ao mesmo tempo, a patologia e o sofrimento. 

A rezadeira e algumas das crianças assistidas pelo projeto.

O local conta com um posto de saúde do PSF, onde se trabalha a patologia com o médico, o enfermeiro e o dentista, e um espaço onde se trabalha o sofrimento, com a massagem, a argila com pedras mornas, o banho de ervas e a reza com curandeiros.  Assim é possível aproveitar, de forma complementar, o saber dos especialistas e a sabedoria popular, que enfrenta o sofrimento, promovendo a saúde e reduzindo danos.


Fontes:
Jornal O Povo.
Folha online
http://pt.scribd.com/doc/20191561/REVISTA-RADIS1

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Terra de Indios



Nos primeiros tempos da conquista e ocupação de terras cearenses,  nos séculos XVI e XVII, havia inúmeras tribos de indígenas, que foram duramente explorados, combatidos e perseguidos pelos exploradores europeus. Na Fortaleza ao tempo dos holandeses, por exemplo, várias nações indígenas habitavam essa parte do litoral como os Anacés, Os Tremembés, e os Paiacus e outros. 

Mapa com a localização das nações indígenas no Estado do Ceará

Eram exímios pescadores. Usavam arpões, setas e anzóis nas suas pescarias, além de arco e flechas, e possuíam canoas para navegação em rios e em alto mar. Viviam ainda da caça de aves e de pequenos animais nos mangues e nas matas adjacentes; praticavam a agricultura plantando roçados de mandioca e milho. No decorrer do ano recorriam à coleta de sementes e frutos nativos para complementar a dieta alimentar. 

Na época de caju, guardavam as castanhas, usadas para medir a passagem do tempo, o intervalo das mudanças da lua, e marcar as datas de nascimento e morte dos membros das famílias. Nesse período de safra do caju, muitos índios abandonavam o sertão, rumo aos tabuleiros e as praias, aumentando a população litorânea. Era uma fase de fartura, de festas, do Torém e de encontro entre parentes.  Depois todos voltavam às suas aldeias, levando cabaças cheias de castanhas e o mocororó, uma aguardente extraída do caju fermentado e cozido por processo semelhante ao fabrico do cauim obtido do milho e da mandioca.



O polimento é uma técnica de trabalho da pedra por abrasão. A peça é esfregada sobre um bloco de arenito, de granito ou gnaisse até adquirir a forma desejada. A superfície resultante brilha porque reflete a luz. Trata-se de uma técnica simples, porém demorada e cansativa.

A arte e o artesanato utilizavam tecnologias muito antigas, transmitidas de geração a geração. Para auxiliar nas atividades diárias, fabricavam machados  de pedra polida e raspadeiras feitas de conchas de moluscos. Da palha da carnaúba, do tucum e do cipó, faziam esteiras, urupembas e caçuás. Também as casas eram feitas com ramos e folhas de palmeiras e fibras vegetais. 


As mulheres se dedicavam à cerâmica e à tecelagem, e há indícios que usavam fusos para fiar algodão. O cultivo dessa planta era uma prática tradicional, sendo os algodoais plantados em terrenos distantes das moradias.



A cerâmica é mais recente que que os instrumentos de pedra polida. Muitas destas vasilhas eram utilizadas para a contenção de substancias sólidas e líquidas, como a mandioca e o cauim. Os recipientes pintados também serviam para cerimônias da morte e rituais antropofágicos. A confecção de cerâmica é atribuída as mulheres, ao pintarem determinadas peças elas participavam de um grande evento, a guerra com o intuito de capturar guerreiros para o sacrifício   

A herança cultural dos indígenas, apesar de toda a força destruidora dos invasores, e, sobretudo, da ação catequética da Igreja, perdura até hoje,  embora, muitas vezes, desapercebida. 

Nas atividades de caça e pesca,  restam a tarrafa, a nassa, os fojos, as arapucas e os mundeos, dentre outros, ainda usados por sertanejos e praieiros.  Na agricultura, baseada na cultura da mandioca e do milho, há tradições populares, associadas a esquecidos rituais indígenas, de certas fases da lua, como épocas próprias para plantio e colheita.

Urna funerária tupi-guarani - os enterramentos em urnas funerárias eram de dois tipos: os primários e os secundários. No primário o corpo era amarrado com barbante e depois colocado na urna (procedimento mais raro); no secundário, o corpo era enterrado temporariamente, e depois os ossos ficavam depositados nas urnas. Em muitos casos, os ossos eram queimados e as cinzas iam para as urnas.   

Entre os utensílios domésticos, sobraram o pilão escavado em tronco de árvore, as cuias, as cabaças d’água, potes e panelas de barro. Porém, o utensilio indígena mais conhecido é a rede usada largamente em todas as classes sociais cearenses.  

Na alimentação os exemplos são muitos: caju, pequi, batata, mandioca, beiju, farinha, raízes como xique-xique, macambira. São também herança indígena as queimadas e a coivara, para limpar o terreno nas épocas de plantio.

As rezadeiras, benzedeiras ou curandeiras, ainda hoje encontradas nas periferias das cidades, são resquícios da tradição dos pajés , espécies de lideres médicos e religiosos, que curavam os enfermos espantando os maus espíritos. 


A partir de 1980, o movimento indígena do Ceará dá seus primeiros passos com a mobilização política dos Tapebas, (Caucaia) e dos Tremembé de Almofala (Itarema), seguidos pelos Pitaguary (Maracanaú e Pacatuba), Jenipapo-Kanindé (Aquiraz), posteriormente. Hoje existem fortes organizações no interior do Ceará e, mais recentemente, os Anacés (São Gonçalo do Amarante),  os Tubiba-Tapuia (Monsenhor Tabosa), e os Kariri (Crato e São Benedito), iniciaram seus processos de afirmação étnica.  


Suas principais bandeiras de luta são o acesso à terra, à saúde e à educação que garantiram a educação diferenciada, à assistência à saúde (Funasa) e a realização anual de uma assembleia  estadual. Entre os desafios, o reconhecimento e a demarcação definitiva de seus territórios.    


todas as imagens pertencem ao acervo do Museu do Ceará
Fontes:
História do Ceará, de Airton de Farias
Revista Fortaleza, fascículo n° 1, de 13 de abril de 2006
Museu do Ceará

sábado, 15 de outubro de 2011

Rio Jaguaribe



O Rio Jaguaribe nasce na serra da Joaninha, no município de Tauá e deságua no Atlântico no limite dos municípios de Aracati e Fortim. É o maior curso de água do território cearense com 610 km de extensão. Como todo curso de água cearense, o rio sofre influência das precipitações pluviométricas, sendo suas descargas máximas observadas na época das chuvas (janeiro a julho), bem como das marés as quais impedem que o mesmo sofra uma interrupção no seu curso inferior durante a época da seca (agosto a dezembro).



Sua bacia hidrográfica está situada em sua quase totalidade dentro dos limites do Ceará, com ínfima parcela estendendo-se ao sul para o estado de Pernambuco, ocupando parte dos municípios de Exu, Moreilândia e Serrita.

 Pedra do Chapéu, que guarda alguns objetos que teriam pertencido ao Fortim de São Lourenço, erguido às margens do Jaguaribe no ano de 1603, por Pero Coelho de Sousa. 

As margens do rio, foram construídas várias mansões, com piers, decks, piscinas e até elevadores de lancha

A bacia tem uma forma bastante irregular, apresentando nos alto e médio cursos uma largura média de 220 km, enquanto que no baixo curso passa a ter uma largura de 80 km, diminuindo gradativamente até sua foz. Grosseiramente, poderia ser considerada como sendo triangular.

Ocupa cerca de 50% da área total do estado, o que equivale a, aproximadamente, 75.669 km². As cabeceiras de suas sub-bacias servem de limite entre o Ceará e os estados do Piauí, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

A região vive de duas atividades principais: a pesca e o turismo

mansões construídas na beira do rio


Como se encontra em uma região sujeita a estiagem,  os braços rio Jaguaribe chegavam a desaparecer em épocas de seca, o que lhe rendeu o título de maior rio seco do mundo. Na estação chuvosa, o leito do rio renascia e crescia muito rápido em volume e extensão,  causando inundações e destruindo plantações e residências.
E com a ajuda do açude Orós, deixou de ser o maior Rio Seco do Mundo e passou a ser um rio perenizado.

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo, em Fortim, construída em 1912, tombada pela Prefeitura de Aracati . A igreja foi construída com a frente voltada para o rio, pois na época da construção a vila se estendia na beira do rio. A cidade cresceu e o povo começou a erguer suas casas atrás da igreja.

alguns pontos das margens apresentam forte processo de rosão


Área de Manguezal
Canal do Amor
Ponte sobre o Rio Jaguaribe

Principais Afluentes
Rio Banabuiú e Rio salgado
Outros:
Rio Cariús
Riacho do Sangue
Rio Palhano
Rio Jucá
Rio Conceição
Rio Figueiredo
Rio Quixeré

Fotos de Rodrigo Paiva e Fátima Garcia
Rio Jaguaribe no trecho entre Aracati e Fortim 

Fonte:
Wikipédia
Site Aracati Net 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Instalação de Vilas no Ceará


vista da cidade de Icó, por volta de 1860

Entre o Século XVIII e início do Século XIX foram criadas diversas vilas na capitania do Siará. Constituíram-se também instrumentos de defesa dos latifundiários, que compunham o grupo dominante local.

Em 1736, o povoado de Icó, arraial de maior movimentação no interior, foi alçado á condição de Vila, a primeira dos sertões, evidenciando sua condição de um dos principais núcleos populacionais da província. 

Cidade de Icó, data não especificada (IBGE) 

Em 1851, foi a vez do povoado de Telha (atual Iguatu), que foi desmembrado de Icó e passou a constituir-se um município autônomo. No século XX, em razão de sua expressão agrícola e por haver se tornado terminal da Estrada de Ferro Baturité, Iguatu superou Icó como centro urbano de maior destaque do Alto e Médio Jaguaribe. 

A estação de Iguatu foi inaugurada em 1910 numa cidade original do início do século XIX - Vila da Telha - e que adotou o nome de Iguatu em 1883.


Aracati foi elevada à vila em 1748, constituindo-se o principal núcleo urbano do Ceará até meados do século XIX, quando foi superada por Fortaleza.

No ano de 1789 foi criada a Vila de Campo Maior de Quixeramobim. Também foram instaladas as Vilas de Sobral (1773), Granja (1793), São Bernardo das Russas, São João do Príncipe (Tauá), em 1801. 

Município de Sobral, data não especificada. (IBGE)

Em 1814 surgia a vila de Santo Antônio do Jardim e em 1816, a Vila de São Vicente das Lavras da Mangabeira.  Tais vilas eram chamadas nos documentos coloniais de vilas de brancos, em oposição às vilas de índios.

A explicação para a criação de tantas vilas numa região até então periférica para os interesses metropolitanos, é que na segunda metade do século XVIII, passou a haver uma reestruturação administrativa do Brasil, com o objetivo de atender os novos anseios econômicos e políticos de Portugal. Assim, o Ceará passou a receber maior atenção da Coroa Portuguesa, daí a criação de vilas.

Naquela ocasião houve ainda uma expansão da economia da capitania, com a produção e comércio de charque, couro e, mais tarde, o algodão. A análise da localização geográfica das vilas de brancos (exceto Fortaleza e Aquiraz) mostra que elas estavam situadas em pontos estratégicos para a produção, reprodução e circulação das atividades econômicas – no cruzamento das estradas sertanejas – nos locais de boa pastagem, e na foz dos principais rios do Ceará, como o Jaguaribe e seus afluentes, o Acaraú e o Coreaú. 

A criação das vilas também estava relacionada à preocupação em aplicar a justiça e do controle social das populações, na medida em que tais vilas serviriam para as autoridades policiarem as populações e administrarem as áreas próximas.

caminhão de transporte de passageiros de Russas para Fortaleza (IBGE)

As vilas também visavam ao aumento da produção agrícola, pois caberia aos administradores reunir e vigiar os desocupados e vadios, obrigando-os a trabalhar e produzir, o que pode ser vinculado à necessidade de produzir alimentos para o mercado interno e, sobretudo, à demanda externa por algodão, em virtude da Revolução Industrial.

Tais preocupações ficam evidentes, por exemplo, quando o ouvidor da capitania Manuel Magalhães Pinto e Avelar, enviou carta à rainha D. Maria I relatando que as vilas deveriam desenvolver projetos para integrar os homens, tornando-os úteis à sociedade. O capitão-mor Luís da Mota Feo e Torres (1789-99) baixou uma norma em 1789 para a Região dos Inhamuns, determinando que os proprietários rurais não mantivessem em suas fazendas, agregados que fossem criminosos ou desertores, devendo entrega-los aos juízes ordinários ou encaminhá-los a cadeia mais próxima.

trecho do Rio Jaguaribe (IBGE)

A Ordem Régia de 22 de julho de 1766 dava poderes para a criação de vilas e obrigava que fossem distribuídos os vagabundos e ladrões nos povoados existentes  com 50 fogos (casas) para cima, repartindo-lhes com justas proporções as terras adjacentes. Foi tal Ordem Régia que fundamentou a criação de várias vilas cearenses.

pesquisa:
História do Ceará, de Aírton de Farias
http://www.estacoesferroviarias.com.br

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Padre Antônio Tomás, o Príncipe dos Poetas



Contraste

Quando partimos, no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.

Rindo e cantando, céleres e ufanos,
Vamos marcando descuidadamente...
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então nos enxergamos claramente,
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede exatamente,

O contrário dos tempos de rapaz:
Os desenganos vão conosco à frente
E as esperanças vão ficando atrás.


Antônio Tomás nasceu em 14 de setembro de 1866, na cidade de Acaraú – Ceará,  filho de Gil Tomás Lourenço e Francisca Laurinda da Frota. Depois de estudar em Sobral, interessou-se pela vida religiosa, ainda na juventude. Em 6 de dezembro de 1891 ordenou-se sacerdote no Seminário da Prainha, em Fortaleza.

A partir daí começou a pregar o evangelho em cidades do interior do Estado, tentando, ao mesmo tempo, aliviar a população rural das consequências das secas e da miséria. Exerceu os cargos de coadjutor de Acaraú (1897-1901) e vigário de Acaraú (1901-1919 e de 1921 a 1924). Devido a problemas de saúde, deixou o sacerdócio em Acaraú e passou a morar em Santana, com familiares, até 1940. 

Com o agravamento da doença, precisou ser transferido para a Santa Casa da Misericórdia de Sobral. Mas a necessidade de tratamentos mais sérios fez com que seguisse para Fortaleza. Na capital foi submetido a uma intervenção cirúrgica no Hospital  São João, numa tentativa de prolongar um pouco mais a sua vida. Nove dias depois, no entanto, morreu vítima de um ataque cardíaco, as 23h15m do dia 16 de julho de 1941.

Conforme desejo expresso no testamento, o corpo foi sepultado no dia seguinte, na matriz da cidade de Santana do Acaraú, local indicado pelo próprio Antônio Tomás, onze anos antes.

Igreja Matriz de santana do Acaraú 
imagem: http://cafehistoria.ning.com/photo/matriz-de-santana-do-acarau-2?context=latest

Peço muito encarecidamente aos meus irmãos, sobrinhos, parentes e amigos que nunca, de forma alguma e sob qualquer pretexto, concorram para a publicação coletiva dos meus versos. Quero ainda que meu corpo seja enterrado sem esquife, e que a pedra da sepultura seja reposta no mesmo plano, ficando debaixo do chão, como atualmente se acha, e que não ponha em tempo algum sobre ela, nome, data ou outro qualquer sinal exterior que a faça lembrada.

Este é um trecho do testamento deixado pelo padre Antônio Tomás, considerado um dos maiores sonetistas do Brasil. Apesar de não ter publicado livros, seus versos constavam obrigatoriamente de qualquer recital, tanto na província, quanto em outros Estados.

Modesto ao extremo, não desejava fama ou riqueza,  razão pela qual permitia a publicação de alguns de seus poemas apenas em jornais da cidade, mesmo assim, por insistência de terceiros. Em 1942, foi eleito Príncipe dos Poetas Cearenses, através de concurso público promovido pela Revista Ceará Ilustrado, de Demócrito Rocha.

Dinorá Tomás Ramos, sobrinha do poeta e autora do livro Padre Antônio Tomás – o príncipe dos poetas cearenses,  diz que a família obedeceu às disposições testamentárias: o padre foi sepultado sem ataúde, não sendo colocada nenhuma lápide, nenhuma inscrição, nenhum nome, nem sequer uma data. 

 extraído do livro
A História do Ceará passa por esta rua de Rogaciano Leite Filho