sexta-feira, 17 de junho de 2011

Fim do Ciclo do Cangaço e dos Movimentos Messiânicos

No período da ditadura Vargas (1937-1945), episódios como a morte de Lampião em 1938 e de Corisco, dois anos depois, em 1940, a destruição da comunidade religiosa do Caldeirão, e a perda de poder  político do Padre Cícero, marcaram a derrocada do cangaço e dos movimentos messiânicos. 
sobreviventes do Sítio Caldeirão comunidade religiosa liderada pelo beato José Lourenço destruída por forças policiais, em 1937, no Crato - Ceará.
Essas formas de expressão de inconformismo sertanejos chegaram ao fim por vários motivos. Em primeiro lugar, devido a centralização de poder imposta por Getúlio, que não admitia núcleos de contestação à ordem e ao império da lei. 
Assim era inadmissível que um bando de cangaceiros continuassem a agir impunemente  ou que líderes religiosos desafiassem os ditames das autoridades e colocassem em xeque a estrutura socioeconômica. 
cangaceiros capturados e mortos por forças policiais, as chamadas "volantes" 
A repressão aos cangaceiros foi intensificada, os interventores promoveram campanhas de desarmamento nos sertões e puseram a premio a cabeça dos principais bandoleiros, ao mesmo tempo em que acenava com o perdão para quem depusesse as armas. 
O Estado exigia o monopólio do uso da violência, então os coronéis e seus jagunços também foram desarmados, alguns até foram presos.  Muitos coiteiros deixaram de colaborar com os cangaceiros para ajudar as volantes. 
Corisco, o Diabo Louro foi morto em 1940
Conta-se que Lampião e os demais chefes nos últimos tempos, tiveram enormes dificuldades para conseguir armas e munições, e as relações com seus fornecedores, tornaram-se puramente comerciais. 
Um segundo fator para o fim do cangaço e do messianismo foi o crescimento econômico brasileiro: a industrialização e a expansão do setor de serviços nos centros urbanos do Centro-Sul, o novo ciclo de extração da borracha na Amazônia, a abertura de novas frentes agrícolas no Sul e no Centro-Oeste. 
Com isso criava-se alternativa  de vida para os moradores do sertão.  Para o sertanejo inconformado, carente, perseguido ou apenas numa situação de miséria absoluta, havia agora uma opção menos traumática: migrar. A partir dos anos 1930, a emigração de nordestinos para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Amazonas, se intensificou, todos em busca de abastança, riqueza e melhores condições de vida. 
O censo realizado em 1950 mostrou a realidade das migrações: cerca de dois milhões de nordestinos –10% da população do Ceará,  mais de 13% da população do Piauí, mais de 15% da população da Bahia, 17% da população de Alagoas – tinha migrado.
 migrantes nordestinos. O deslocamento se dava a pé, de trem ou em caminhões pau-de-arara.
Não somente o Sul,  mas os próprios centros urbanos do Nordeste funcionaram como polo de atração das populações rurais, criando novos problemas para os centros urbanos. A maioria dos sertanejos não conseguiu realizar as expectativas, nem se inserir no mercado de trabalho. As cidades cresceram  desordenadamente, apareceram favelas, aumentou a violência, a mendicância, a prostituição, e os problemas ligados a moradia. 
No decênio entre 1940-1950, o êxodo rural possibilitou um aumento de 75% da população de Recife, 70% dos habitantes de Salvador e 62% dos moradores de Fortaleza, que passou de 180 mil habitantes em 1940, para 270 mil em 1950. 
Por fim, outro fator que contribuiu para a derrocada de fanáticos religiosos e cangaceiros, foi a evolução ainda que pequena, dos meios de comunicação e do transporte, que promoveu uma integração dos sertões nordestino com o resto do Brasil. 
patrulhas de combate ao cangaço
Contando com mais ferrovias e estradas, trens, automóveis e caminhões passaram a transitar intensamente, transformando as veredas do interior em rodovias largas e policiadas, onde o cangaço não poderia sobreviver. 
O resultado dessa nova realidade foi que os coronéis, impossibilitados de manter grupos armados para resolver suas disputas políticas ou pessoais, passaram a adotar a frieza e covardia dos denominados pistoleiros de aluguel. 
Estes indivíduos ao contrário de jagunços e cangaceiros – capazes de matar e morrer pelos seus chefes – agiam exclusivamente por dinheiro, onde existia até uma tabela de preços para homicídios, que variava de acordo com a importância da vítima.   

Fonte:
História do Ceará, de Airton de Farias

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